Qual o impacto que a alimentação tem no nosso corpo?
A alimentação é o nosso principal combustível e é, atualmente, responsável pela maior causa de morte no mundo. Quando a mesma não é a correta, desencadeia uma quantidade de processos inflamatórios e metabólicos, que, por sua vez, vão dar lugar à doença. Podemos comer para ganhar saúde ou para a perder. São escolhas que fazemos diariamente nos vários momentos em que nos alimentamos. É importante compreendermos que quando estamos a comer, estamos, de facto, a nutrir não só o corpo, mas uma imensidão de bactérias que em nós habitam e nos sustentam a vida. Somos mais bactérias do que humanos, e é precisamente no intestino que habita um número impressionante destes pequenos seres. Cerca de 80 % do nosso sistema imunitário é «construído» no intestino. Quanto mais diversidade de bactérias boas temos, mais forte é o nosso sistema imunitário. Para que isto aconteça, é imprescindível fazermos uma boa alimentação e termos bons hábitos de vida. É no intestino que quase todas as doenças começam. É também lá que absorvemos os nutrientes e onde muita coisa a nível hormonal é regulada. Nós «pensamos» com o nosso intestino: cerca de 90 % dos neurónios estão lá. Muitos sinais são enviados daquele que é considerado o nosso «segundo cérebro». Sabia que problemas do sono, depressão, excesso de peso, entre outros, estão diretamente relacionados com problemas nos intestinos? Imaginem o vosso carro a gasóleo: Será que se colocarmos gasolina ele vai funcionar? A resposta é óbvia: Não! Com o nosso corpo acontece o mesmo. Muitas pessoas passam anos a dar o combustível errado ao seu corpo. O nosso organismo vai tentando corrigir os erros do que vamos ingerindo, mas chega uma altura em que o mesmo já não consegue dar resposta. A doença começa a surgir. Tudo é construído ao longo de anos, inclusive já na barriga da nossa mãe.
As fragilidades de cada organismo variam de pessoa para pessoa. Não somos todos iguais, e é por isso que é fundamental proceder-se a uma abordagem integrativa com cada pessoa. Temos grupos sanguíneos diferentes, temos constituições físicas diferentes, formas de estar na vida diferentes, vimos de famílias com diferentes heranças genéticas, e tudo isso tem de ser tido em conta para o sucesso de uma boa intervenção em cada pessoa.
A alimentação que ingerimos emocionalmente também pode causar muita toxicidade. A alimentação primária é um tipo de alimentação que não vem num prato. É o alimento das nossas emoções. Podemos nutrir-nos através das nossas relações, quer pessoais, quer profissionais ou até com nós próprios. A nossa profissão também é uma forma de nutrição.
Será que ela nos alimenta de forma saudável? Gostamos do que estamos a fazer? Trabalhamos com vontade? É um trabalho que nos preenche? Sentimo-nos realizados?
Podemos também nutrir-nos através do exercício físico. É uma excelente opção! Movimentando o nosso corpo, oxigenando todas as nossas células, fazendo disparar o nosso coração e mostrando ao mundo que estamos vivos! Ter rotinas de exercício diariamente é fundamental para a nossa saúde.
A nutrição através da espiritualidade é outra forma de alimentação e está relacionada com aquilo que preenche todo o nosso ser: saber quem somos, qual o nosso propósito, o que nos faz vibrar por dentro.
Como veem, a alimentação representa um pilar fundamental na nossa saúde e pode ter um impacto gigante para o bom e para o menos bom, se for vista como algo secundário.
Qual a rotina alimentar ideal?
Aquela que nos põe a brilhar de dentro para fora. Esta é, sem dúvida, a melhor rotina de todas. Comermos de forma consciente e sustentável é, sem dúvida, a rotina que melhore resultados tem. Temos de pensar que tudo o que damos ao mundo retorna a nós. Por isso, é bom darmos ao mundo coisas boas. Dou-vos exemplos: os produtos de higiene pessoal que utilizamos diariamente e que contêm micro plásticos, as pastas de dentes, os esfoliantes corporais, o gel de banho, etc. Cada vez que colocamos na pele um produto que não contenha ingredientes naturais, além de estarmos a intoxicar o nosso corpo, pois a pele absorve tudo o que colocamos nela, estamos a contribuir para a poluição nos rios e oceanos. Quando tomamos banho ou lavamos os dentes, deixamos esses produtos irem pelo ralo abaixo, e mais cedo ou mais tarde vão parar ao mar. Quem vive no mar?
Os peixes. Quem come peixes? Nós! Portanto, mais cedo ou mais tarde, acabamos por ingerir esses mesmos microplásticos e substâncias que os compõem, causando problemas não só para a nossa saúde, mas também para a criação de um desequilíbrio gigante no oceano e no ambiente.
Quais as melhores ferramentas para prevenir os efeitos do envelhecimento através da alimentação?
Estarmos informados! Esta é, sem dúvida, a melhor ferramenta de todas. Depois, é darmos ao nosso corpo o melhor que a natureza tem. Quanto menos processado, melhor. Comer fruta, fazer uma alimentação plant-based (com mais vegetais e menos proteína animal), ingerir em porções equilibradas cereais integrais, leguminosas, germinados e algas.
Termos boas noites de sono também é fundamental, meditarmos, respirarmos, termos tempo para nós, libertarmos tensões do dia a dia e fazermos exercício diariamente, nem que seja uma caminhada.
Quais são os maiores erros que se cometem na alimentação?
Seguir dietas da moda ou dietas da «vizinha». Cada corpo é um corpo e em diferentes fases da vida tem necessidades diferentes. É importante compreendermos isto e gravar na nossa memória que «O que é bom para mim pode ser veneno para outra pessoa!». As mulheres, por exemplo, têm necessidades nutricionais diferentes ao longo da vida. Engravidam, amamentam, têm ciclos menstruais, entram na menopausa e, em cada momento, o que comem tem influência nestas diferentes fases. Todas as mudanças alimentares devem ser acompanhadas por um profissional da saúde.
Afinal, porque é que o glúten é tão mau para o nosso organismo?
Existe muita polémica com o glúten, mas a verdade é que também existem muitas doenças associadas a ele. O trigo tem sofrido muitas alterações genéticas ao longo dos anos e logo aí, à partida, temos um produto que não é facilmente reconhecido pelo nosso corpo e que vai desencadear processos inflamatórios. Existe glúten em tudo o que tenha trigo. Também existe no centeio, espelta, cevada, kamut, farro, entre outros. A aveia, que muitas vezes é referida, só tem glúten por contaminação cruzada, pois foi manipulada no mesmo espaço que o trigo, mas para quem é celíaco existe a possibilidade de comprar aveia sem glúten.
Geralmente, os produtos com glúten têm também outros ingredientes menos bons associados e, por isso, achamos muitas vezes que o glúten é que engorda. Não é bem assim. O glúten causa outro tipo de situações devido à inflamação que ele pode causar; o que engorda são os produtos associados a ele. Conforme a literatura científica, existem, atualmente, mais de cinquenta situações clínicas associadas ao glúten, como eczema, diarreia ou obstipação, inchaço ou gases, dor de cabeça, azia, depressão, enxaquecas, dores articulares, falta de concentração, mal-estar geral, depressão, acne, cansaço, doenças neurológicas, confusão mental, perturbações no sono, doença celíaca e tantas outras situações. Na verdade, este não era um problema tão acentuado no passado, pois o trigo utilizado pelas nossas avós e bisavós era conjugado com produtos muito mais naturais e não era tão modificado geneticamente para aumentar a sua rentabilidade.
Hoje em dia, é tudo muito processado e tem de ser produzido de forma rápida. Quando se fazia o pão, utilizava-se a massa mãe como fermento, e não os fermentos químicos que hoje se usam de forma banal. A massa mãe resulta da fermentação da farinha com água. Neste processo, há uma pré-digestão do amido por parte dos microrganismos naturalmente presentes nesta mistura, que fazem com que o índice glicémico do pão onde é utilizada essa massa seja mais reduzido. Esta fermentação, que acaba por ser mais demorada, também faz com que a proteína do glúten seja quebrada, tornando-a mais fácil de digerir. Atualmente, existem várias marcas de pão que utilizam fermentação lenta (massa mãe). Para quem não quer excluir o consumo de trigo ou outros cereais com glúten, esta pode ser uma opção interessante.
E o leite?
Para uma grande parte da população, o leite e os seus derivados representam um rol de problemas e inflamações silenciosas que acidificam o organismo e vão destruindo a mucosa intestinal. Leite e derivados têm caseína, que é a proteína do leite e que causa muita inflamação. Existem pessoas mais intolerantes do que outras, mas, na verdade, todas têm algum grau de intolerância. Atualmente, estes produtos vêm de animais doentes, que tomam muitos antibióticos e hormonas para aumentar a produção. O leite está associado a várias doenças, como eczema, sinusite, enxaquecas, dores articulares, inchaço abdominal e refluxo. Os países que mais leite consomem são os que têm as taxas de osteoporose mais elevadas. Existe imensa evidência científica sobre este assunto e que não é patrocinada pela indústria dos laticínios. Não temos como discutir os benefícios de uma alimentação sem leite. Experimentem tirar estes produtos durante um mês e reparem nas melhorias que vão ter no organismo: menos muco, menos rinite, menos acne, menos eczema, menos barriga inchada, etc.
É verdade que as noites mal dormidas podem influenciar os quilos a mais na balança?
É verdade. O sono é outra ferramenta fundamental para a nossa saúde. Muita coisa acontece quando estamos a dormir. É nesse momento que o corpo se regenera e tudo se torna mais funcional no organismo. Muito lixo celular é também produzido e eliminado. Quando existe privação de sono, ocorrem alterações a nível hormonal. Há um aumento da grelina (a hormonal da fome) e do cortisol e são também produzidas tantas outras hormonas que são vitais para o bom funcionamento do nosso metabolismo.
Atualmente, devido a vários fatores da nossa sociedade, muitas pessoas dormem cada vez menos e não têm um sono reparador. O sono é afetado por situações de stress, pelo tempo que se passa em frente a ecrãs de telemóveis, televisões, computadores, tablets, por horários de trabalho, refeições fora de horas, barulho, luz, etc. Tudo isto interfere na qualidade do nosso sono, faz com que o sono não seja reparador e, como tal, muitas funções que deveriam ocorrer durante a noite não acontecem, causando desequilíbrios no nosso metabolismo.
Uma coisa que é muito afetada é a produção de melatonina, uma hormonal fundamental para o nosso sono. Muitas pessoas recorrem a medicação para conseguirem dormir, e o ideal seria utilizar a suplementação em melatonina e outros suplementos sob orientação de um profissional. Há uma grande diferença entre dormir «pedrado» e dormir de forma reparadora. Pensem nisto antes de iniciarem a toma de químicos.
Há caminhos que escolhemos, nos quais permanecemos demasiado tempo, que nos desligam de nós próprios silenciosamente e que, mais tarde, nos dificultam o regresso ao nosso estado natural e saudável.
De que forma podemos potenciar a nossa energia e boa-disposição através dos nutrientes?
Respeitando as diferentes fases pelas quais estamos a passar. Se eu vou fazer um treino, não vou comer três bifes antes de ir treinar. Quando acabo o treino, é importante ingerir nutrientes que ajudem a compensar e repor o que foi utilizado nesse período pelo nosso organismo. Quando me vou deitar, também não vou fazer lanchinhos da noite. À noite, é para dormir, e isso inclui não passarmos a noite a fazer digestões de alimentos mais «pesados».
A forma como cozinhamos, conservamos e preparamos os alimentos também tem um papel importante. Para muitas pessoas, faz toda a diferença! Quando falamos em manter alimentos potencialmente bons para anossa saúde intestinal, há pessoas mais intolerantes e que têm mais dificuldade em digeri-los. Por isso, a forma como os preparamos e a quantidade que ingerimos são aspetos que fazem toda a diferença. Mais uma vez, é importante estarmos conectados com o nosso templo, com o nosso corpo, para compreendermos o que fazer nos diferentes ciclos da nossa vida.
De que forma podemos fortalecer o nosso sistema imunitário?
Podemos fortalecer o nosso sistema imunitário ingerindo alimentos «de verdade», que, por sua vez, alimentem as nossas bactérias boas, nos façam sentir energizados e nos façam brilhar de dentro para fora.
É importante privilegiar uma alimentação muito mais plant-based, com menos proteína animal e isenta de produtos processados e açúcares refinados. Em determinadas fases da vida, a suplementação adequada também ajuda a dar um boost no nosso sistema imunitário. É essencial termos uma boa higiene do sono, dedicarmos tempo a nós próprios e libertarmo-nos de tensões do dia a dia. Fazer meditação, fazer algo pelo próximo e sentir amor no coração.
Devemos fazer dietas detox?
O melhor detox que pode ser feito é quando estamos a dormir ou a fazer jejum. Muitas vezes, as pessoas fazem dietas detox, mas não estão preparadas para dar suporte ao corpo, com toda a toxicidade que é libertada. Por exemplo, existem pessoas que fazem jejum, mas não bebem quase água nenhuma e algumas ainda bebem refrigerantes. Não pode ser.
É fundamental beber água para ajudar o organismo a eliminar todas as toxinas que estão a ser libertadas. Outro exemplo são as pessoas que bebem sumos da moda para detox durante um determinado tempo, mas depois não alteram a sua alimentação. Não faz muito sentido e pode ser prejudicial. Podem ter sintomas como dor de cabeça e náuseas por estarem a fazer detox muito rapidamente ou da forma errada, fazendo com que as toxinas entrem na corrente sanguínea mais rapidamente.
Fazer dietas detox com acompanhamento de profissionais da saúde poderá ser o mais indicado para quem não está dentro do assunto.
E o jejum intermitente, que é usado pelas celebridades internacionais e é visto como um dos maiores segredos para uma aparência mais jovem?
É verdade. Como referi na pergunta anterior, é importante proporcionarmos momentos de jejum em que o nosso corpo não esteja preocupado em estar sempre a fazer digestões, em apagar «focos de incêndio» daquilo que vai entrando no nosso corpo. É uma oportunidade que o corpo tem para fazer um verdadeiro detox. O jejum pode ser feito com diferentes horários e se for com acompanhamento ainda melhor. Biologicamente, aumenta a nossa juventude, controla o açúcar no sangue, regula os níveis de insulina, aumenta a produção da nossa hormona do crescimento, melhora o sono, melhora a textura da pele, diminui a ansiedade, regula hormonas, ajuda a controlar o peso, promove a regeneração celular. Compreendem porque ele é tão badalado entre as celebridades?